A lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das lesões mais comuns e debilitantes que afetam o joelho, especialmente em atletas de esportes que envolvem mudanças bruscas de direção, como futebol, basquete e esqui. Neste post, vamos explorar o conceito, os tipos de lesão, a epidemiologia, os tratamentos disponíveis e as fases da reabilitação fisioterapêutica, com um exemplo prático de um jogador de futebol profissional.

Conceito e Tipos de Lesão do LCA
O ligamento cruzado anterior é uma estrutura fibrosa localizada no centro do joelho, responsável por estabilizar a articulação, principalmente durante movimentos de rotação e desaceleração. A lesão do LCA ocorre quando há um estiramento ou ruptura desse ligamento, geralmente devido a:
- Trauma direto: Impacto no joelho, como uma entorse durante uma queda ou colisão.
- Trauma indireto: Movimentos bruscos de rotação ou hiperextensão do joelho, comuns em esportes.
As lesões do LCA podem ser classificadas em:
- Grau I: Estiramento leve, sem ruptura.
- Grau II: Ruptura parcial.
- Grau III: Ruptura completa.
Lesões Associadas
A lesão do LCA frequentemente está associada a outras lesões no joelho, como:
- Lesões do menisco (50-70% dos casos).
- Lesões da cartilagem articular.
- Lesões do ligamento colateral medial (LCM).
- Contusões ósseas (edema ósseo).
Essas lesões associadas podem complicar o quadro clínico e prolongar o tempo de recuperação.

Epidemiologia
A lesão do LCA é mais comum em atletas, especialmente mulheres, que têm de 2 a 8 vezes mais chances de sofrer essa lesão devido a diferenças anatômicas, hormonais e biomecânicas. No futebol, por exemplo, estima-se que a incidência seja de 0,2 a 3,7 lesões por 1.000 horas de prática esportiva.
Tratamentos Disponíveis
O tratamento da lesão do LCA depende da gravidade da lesão, da idade do paciente e do nível de atividade física. As opções incluem:
- Tratamento Conservador:
- Indicado para lesões parciais ou em pacientes menos ativos.
- Envolve fisioterapia para fortalecimento muscular e melhora da estabilidade do joelho.
- Tratamento Cirúrgico (Reconstrução do LCA):
- Indicado para lesões completas, especialmente em atletas jovens e ativos.
- A cirurgia envolve a reconstrução do ligamento utilizando enxertos (tendão patelar, tendões flexores ou enxerto de doador).
Fases do Tratamento Fisioterapêutico
A reabilitação pós-lesão do LCA é dividida em fases, com objetivos específicos em cada etapa. Vamos usar o exemplo de um jogador de futebol profissional:
Fase 1: Aguda (0-2 semanas)
- Objetivo: Reduzir dor e inflamação, recuperar amplitude de movimento (ADM) e prevenir atrofia muscular.
- Intervenções:
- Crioterapia (gelo) e elevação do membro.
- Exercícios de mobilização passiva e ativa do joelho.
- Fortalecimento isométrico do quadríceps.
- Uso de muletas para descarga de peso, se necessário.

Fase 2: Intermediária 1 (2-6 semanas)
Objetivo: Restaurar a ADM completa, melhorar força muscular e controle neuromuscular.
- Intervenções:
- Exercícios de fortalecimento progressivo (cadeia cinética aberta e fechada).
- Treino de equilíbrio e propriocepção.
- Caminhada sem muletas, com carga progressiva.
Fase 3: Intermediária 2 (6-12 semanas)
- Objetivo: Melhorar força, resistência e preparar para retorno às atividades esportivas.
- Intervenções:
- Exercícios funcionais (agachamentos, lunges, step-ups).
- Treino de corrida em linha reta e mudanças de direção leves.
- Continuar com exercícios de propriocepção.

Fase 4: Fase Avançada (3-6 meses)
- Objetivo: Restaurar a confiança e a capacidade funcional para o esporte.
- Intervenções:
- Treino específico para futebol (chutes, saltos, mudanças bruscas de direção).
- Testes funcionais (ex.: teste de salto unilateral) para avaliar prontidão.
- Progressão gradual para treinos completos e jogos.
Fase 4: Retorno Ao Esporte de Alto Rendimento (9 meses)

Progressão Funcional até a Alta
No caso do jogador de futebol, a alta é dada quando ele atinge os seguintes critérios:
- ADM completa e simétrica.
- Bom controle neuromuscular durante atividades de alta demanda.
- Ausência de dor ou instabilidade durante testes funcionais.
- Avaliação subjetiva satisfatória pelo paciente, que precisa ter confiança no joelho;
- Teste isocinético demonstrando diferença de força não superior a 10% de uma perna em relação à outra, seja para o quadríceps ou para a musculatura posterior;
- Relação de força quadríceps / isquiotibiais entre 50 e 70%;
- Testes de salto unipodal e o Y test com menos de 10% de diferença entre os membros.

Conclusão
A lesão do LCA é um desafio significativo para atletas e Fisioterapeutas, mas com um plano de reabilitação bem estruturado e baseado em evidências, é possível alcançar uma recuperação completa e segura. A progressão deve ser individualizada, respeitando os limites biológicos e psicológicos do paciente. Para atletas profissionais, o retorno ao esporte deve ser gradual e monitorado para prevenir recidivas.
Se você é Fisioterapeuta ou atleta, espero que este post tenha esclarecido as principais dúvidas sobre a lesão do LCA. Compartilhe suas experiências nos comentários!